sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

* Relembrando Litha II



Caminharam sem destino, com a mente a vaguear por outros mundos, acariciando com o olhar todas as árvores e flores que encontravam a cada passo dado. Aquele refúgio dava a sensação de uma natureza abandonada pela mão humana, apenas luzinhas cintilantes se viam pelo caminho, pirilampos, guardiões da noite. Os seus passos levaram a um belo jardim, um lugar onde as almas repousavam após a sua vida terrena. Deitaram-se na relva, junto a uma árvore, sagrada noutros tempos, observando o céu, trocando frases sem sentido, saboreando o aroma que a terra exalava. O desejo da carne, a entrega impensada de dois corpos que procuram o amor no outro. Entregou-se a ele quando sentiu dentro de si as chamas da paixão queimarem-na. Riu com ele, por momentos pensou que era capaz de ficar assim eternamente, envolta pelos seus braços fortes, com o seu cheiro cravado na pele. Mas eternamente é muito tempo.. Quando os seus corpos unidos descansavam do êxtase da comunhão, ela suspirou-lhe ao ouvido “Quem és tu que me entraste na mente, no corpo? Que posso eu saber de ti? Estranho, um doce estranho.. entraste em mim como a luz que eu procurava. Uma noite de chuva que deu lugar ao Sol.”
Não haveria nada naquele momento que a fizesse acreditar que havia guerra, a proximidade das mãos, o espaço que Fausto ousara invadir, o beijo que lhe roubara mesmo ignorando o que escondiam as suas máscaras. Nele, Miriam encontrou um porto de abrigo para as tempestades da sua mente. Sabia-lhe bem poder partilhar as pequenas coisas com ele. Mas ainda lhe custava a entrega, o abandono subtil à união. Não queria encontrar nele apenas um preenchimento dos seus vazios. Disse a si mesma, vezes sem conta, que ele seria mais que isso. Mas o desejo de liberdade latejava no seu íntimo..

Sem comentários:

Enviar um comentário