quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

* A ti



Porque não procurar o arco-íris depois da tempestade? Porque não ver o florescer da Primavera?
A ti, onde quer que estejas, sabes que a vida te espera, te encontra e te felicita a cada momento.. por ti soam os sinos da Natureza, não os ouves?
A vida apresenta-nos os mais belos desafios, nem sempre vencemos, nem sempre conseguimos arrancar um sorriso ao nosso íntimo.. Por vezes encontramos lágrimas nos olhares, mas tudo tem a sua luz. Já reparaste no brilho de uma gota quando o sol a beija?
A ti, quem quer que sejas.. Sê o caminhante da liberdade, caminhante do céu, e saberás sempre que o pecado não existe, apenas a dor do medo. Vive, livre. Porque a vida merece o teu dom: o de Ser, o de Existir.

Imagino-te agora diante de mim, sem barreiras, sem máscaras. O teu rosto não o sei de cor, o meu olhar não consegue vislumbrar as formas certas. Mas o que é um rosto? Nossa máscara na vida, papel de embrulho para os aniversários do caminho..? Os olhos são o espelho da alma, e é a essa tua alma que quero chegar, pois já lhe conheço a essência. Mas não estás aqui, ainda, e agora que sinto em mim este desejo de partilhar contigo estas palavras, escrevo nas folhas que me agarram com a esperança de que um dia irás ler estes escritos.. Talvez seja a forma que encontro para não semear as palavras ao vento, sem destino: um coração onde se irão plantar. Que nem flores que crescem sem se saber bem como, pequenas sementes de estórias que as palavras não ditas podem contar..
Mas ouve-me, desejo que estas palavras entrem em ti, que és parte de mim. Que encontrem terra fértil na tua alma para que possas acreditar na tua Luz, no teu Amor.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Cada Palavra é uma Semente



"Para se perceber o tempo, para se perceber o significado mais profundo, em vez de o interpretarmos, teríamos de nos despojar.
Despojarmo-nos do eu, mais do que qualquer coisa.
Eu quero, eu faço, eu compreendo, eu sou. Despojarmo-nos e esperar.
Esperar e ouvir.
Assim, a pouco e pouco, iremos reparando que este tempo, este tempo que nos torna ansiosos, este tempo em que vamos acumulando coisas a fazer e a dizer, é, na realidade, um tempo que não difere muito da corrida de uma formiga, um tempo ligeiro, breve, curto. O verdadeiro tempo não é esse.
É o tempo do mistério e da transcendência.
É o tempo em que a cada semente será revelado o seu projecto.
Um tempo que nos envolve e nos ultrapassa. Um tempo sem tempo, sem madrugadas, nem crepúsculos, sem aniversários, nem funerais.
É um tempo que nos antecede e nos segue, mas é também um tempo que nos acompanha ao longo dos dias, ou melhor, que irrompe nos dias, salvando-nos da deriva. É o tempo da humildade, da descida às raízes.
O tempo da escuta, da escuta que se transforma em diálogo.
É o tempo do acolhimento e do reconhecimento.
É o tempo da semente que se transforma em rebento e do rebento que se transforma em planta.
É o tempo da planta que transforma a energia do crescimento na beleza inútil da flor e que, um momento antes de murchar e deixar cair as sementes, repara com espanto que aquilo a que, até esse momento, chamara Luz, era, de facto, Amor."

Susanna Tamaro
Cada Palavra é uma Semente

As Palavras Que Pena



"Decidi-me finalmente a penetrar na noite. Ficarei acordada em vez de me esconder em sonhos repousantes. Ficarei com os olhos abertos para ver ouvidos destapados para ouvir ficarei sem medo estendida na cama com os olhos abertos até compreender finalmente qual é o meu caminho. Se é que há um caminho. The further one goes the less one knows. Não posso descansar. Não posso cruzar os braços fechar as mãos e julgar que estão cheias. Vem noite sobre mim (antíquissima e idêntica etc.) repousadamente noite desce sobre mim. Eu desisto do anjo mas que me mandem uma estrela uma só que finalmente me conduza ao caminho. Não posso olhar o céu, cheio de enigmas pequenos cruzados e brilhantes. Quero só uma estrela. Uma só. E que atrás dela voem bandos de pássaros sagrados noutros tempos. Hoje tão cegos como eu."

Y. K. Centeno
As Palavras Que Pena
in Três Histórias de Amor