domingo, 20 de fevereiro de 2011

Vou sair para comprar cigarros


"Meu amor, eu volto já
Vou por aí, vou ver o mar
Ouvir o canto da sereia
E duvidar, vou duvidar,
Do sol, do céu, do chão, do ar,
Vou-me afundar
Na ferida escura e esquiva
Que me tem cativo, imóvel
Sem solução

Meu amor, se eu naufragar
Se me perder no teu olhar
Desaparecer sob o luar
Me consumir de bar em bar
na bruma bêbada de um cais
Gritar que quero mais que a vida
E mais e mais e mais..
Perdoa
Perdi-me
Na confusão.

Se porém eu me encontrar
Talvez o mar se acalme no meu peito
E eu possa pôr os pés no chão
E respirar
E abraçar a solidão
E ocupar o meu lugar
Na vasta e tensa imensidão
E então voltar, e.. se..
Tu ainda me quiseres
Meu amor, se desejares
Dou-te tudo o que sobrar de mim."


JP Simões
Vou Sair Para Comprar Cigarros






quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Amor a Contra-Relógio



"O desejo de amar cresce como uma onda nas madrugadas frias, nas madrugadas lentas.
(...)
Acordei sozinha no meu quarto e senti-me profundamente triste e abandonada porque o tempo estava contra mim, pela primeira vez na minha vida. O meu amor era a contra-relógio. Agora as coisas teriam sido diferentes, embora nada me garanta que pudessem por isso ser melhores. (...)
Ao enorme desejo de me dar para ficar em ti substituiu-se a sensação imediata de me ter dado inutilmente. Eu não fiquei em ti (às vezes pergunto-me a mim mesma se realmente me cheguei a dar) e num amor a contra-relógio é o tempo que ganha.
Hoje tenho a certeza e por isso modifiquei a minha ideia do tempo, já que o amor tal como foi é imodificável. Tenho a certeza também que voltarei a fazer o mesmo de cada vez que ame, porque sinceramente o tempo não me assusta agora que o conheço. Mas espero primeiro até ser loucamente amada. Digo loucamente e não é fazer literatura. Tem de ser loucamente. Como um bicho que rói alucinado as noites e os dias, o riso e o choro e as simples emoções neutrais de todas as pessoas. Se não não vale a pena, é um amor de mortos.
(...) Foi voluntariamente belo e triste. Aceitei logo de inicio a tristeza do nosso amor por causa da beleza que encerrava e que estoirou depois como um abcesso. Ainda não consegui desvender o mistério que há nos desencontros. Sejam quais forem as nossas relações fica sempre por resolver o mistério de tudo o que poderia ter acontecido e não aconteceu, não sei porquê."


Y. K. Centeno
Quem Se Eu Gritar
in Três Histórias de Amor

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

*


"O ser humano é uma parte de um todo a que chamamos "Universo", limitada no tempo e no espaço. Vê-se a si mesmo, aos seus pensamentos e emoções, como estando separado do resto, numa espécie de ilusão óptica da consciência. Esta ilusão é um tipo de prisão que nos restringe aos nossos desejos pessoais e que nos limita o afecto apenas a umas quantas pessoas que nos rodeiam. A nossa tarefa deve ser a de nos libertarmos dessa prisão, alargando os nossos círculos de compaixão de modo a abraçarmos todas as criaturas vivas e conjunto da natureza, com toda a sua beleza."


* Albert Einstein *