quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

sobre mudanças


"Todas as mudanças, mesmo as mais desejadas, têm a sua melancolia;
porque deixamos para trás uma parte de nós.
Precisamos de morrer uma vida antes de entrar noutra."

* Anatole France

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

As Palavras Que Pena


"Uma vontade enorme demorada de um outro eu ao mesmo tempo igual e diferente em que ela finalmente pudesse dissolver-se. A unidade mística e sensual a unidade perfeita de um todo noutro todo tranquilidade última de lago. O amor. Sempre a vontade de amar como raiz de vida e de morte, de perfeição e aniquilamento. Amor. Êxtase. Amor. Todos os caminhos vão lá ter, a esse encontro breve que normalmente acaba em desencontro. Se há só um tronco na Árvore da Vida como é possível que os seus ramos se ignorem e permaneçam sempre afastados. E se há vários troncos e uma só raiz como é possível que subterraneamente os homens não se encontrem nem a si nem aos outros, como é possível que vivam isolados, dividos em pequenas parcelas de tempo e de espaço. A procura, percebes o que é? A procura, tal como dela dão testemunho tantos homens da nossa geração. Geração inquieta. Às vezes o movimento é tão interior que não se dá por ele. Julga-se que o homem em questão está parado. Ou até que retrocede. Mas pode nem sequer ser um movimento. Pode ser uma espera. Esperar é uma das muitas formas possíveis de procura. Esperar completamente só, completamente imóvel no silêncio."
*
Y. K. Centeno
As Palavras Que Pena
in Três Histórias de Amor

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Renascer das Cinzas


Hoje foi um bom dia.
O sentir-me grata pela vida, pelos instrumentos que o Universo me oferece, para deste modo continuar a missão.
Que este seja o sinal de um recomeço.
Deixar fluir a energia que anseia por vibrar na sua essência mais pura.
Caminhante errante, talvez.
Mas por vezes são os erros que me fazem brilhar.
O caos interior que dá lugar à estrelkdanza.


"Lá em cima surgem as estrelas e a sua luz não chega.
É tudo demasiado pequeno para o nosso desejo,
e nós abandonamo-nos à onda."

José Fer

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Um Deus da Montanha


"Os Deuses aguardam a reunião consciente da mente do Homem com a Mente Universal. A Humanidade desperta lentamente. Cegos pela matéria, através dos séculos, poucos Homens perceberam até agora a Mente dentro da substância, a Vida dentro da forma.
Em busca de poder e riquezas os Homens têm percorrido a Terra, penetrando as florestas, escalando os picos e conquistando os desertos polares. Deixemo-lo agora, buscar dentro da forma, escalar as alturas da sua própria consciência, penetrar suas profundidades, em busca daquela Força e Vida interiores, únicas pelas quais ele pode tornar-se forte em Vontade e espiritualmente enriquecido.
Aquele que assim abre a sua vida e mente à Vida e Mente Universais, subjacentes em todas as coisas, entrará em união com elas e a esse os Deuses aparecerão."
*
Geoffrey Hodson
Um Deus da Montanha
in "O Reino dos Deuses"
* imagem "Light Weaver" de Alex Grey

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

sobre a Verdade



Será que vale a pena tantas interrogações num mundo onde a "verdade" nos é oferecida de bandeja?
Devemos acreditar no que nos é dito constantemente?

“O que eu quero é a verdade. Não sei qual. Uma verdade que entre dentro de mim e me rebente o peito e me faça estalar em mil bocados espalhados por todo o universo. Uma verdade que me faça ascender que me puxe para fora de mim que me arranque e me deixe suspensa no tempo e no espaço. Que anule a diferença entre uma coisa e outra coisa um gesto e outro gesto um estado e outro estado. Que anule a diferença entre as pessoas. Que seja como um rasgão horizontal nos olhos. Passar a ver a n dimensões. E viver de acordo com o que vejo. Saber como é de facto a vida. O que é a vida. Como é e o que é a morte. Saber a sério por dentro. Saber com luz e sombra. Saber qual a verdade qual a realidade qual a finalidade da minha existência, de toda a existência em geral. E porque existe o mundo. E para quê. Ponho tudo em questão. Não acredito em nada que não me venha de dentro. Mas de dentro não me vem nada. Mesmo que Deus se procure e se encontre nos homens, nalguns homens apenas, nos eleitos, qual o sentido dos que ficam de fora. E porque razão ficam de fora. E onde ficam e como ficam e porquê e não percebo quanto mais quero pensar menos percebo. Não sei se devo ser eu a chegar à verdade ou se devo apenas esperar que ela chegue a mim. (...) Não sei como reconhecê-la caso não venha como eu a imagino revestida de sombra e de luz, penetrando-me como um fogo secreto que depois se revolve na cabeça e no peito. Espero. Retiro-me enquanto espero, não fico presa a nada. (...) O que eu quero saber é a verdade. De uma vez para sempre a verdade. Que corra para mim e se transforme em mar e me deixe ficar imóvel e submersa e acordada. Pela primeira vez mesmo acordada.”

Y. K. Centeno
As Palavras Que Pena
in Três Histórias de Amor

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

* Relembrando Litha II



Caminharam sem destino, com a mente a vaguear por outros mundos, acariciando com o olhar todas as árvores e flores que encontravam a cada passo dado. Aquele refúgio dava a sensação de uma natureza abandonada pela mão humana, apenas luzinhas cintilantes se viam pelo caminho, pirilampos, guardiões da noite. Os seus passos levaram a um belo jardim, um lugar onde as almas repousavam após a sua vida terrena. Deitaram-se na relva, junto a uma árvore, sagrada noutros tempos, observando o céu, trocando frases sem sentido, saboreando o aroma que a terra exalava. O desejo da carne, a entrega impensada de dois corpos que procuram o amor no outro. Entregou-se a ele quando sentiu dentro de si as chamas da paixão queimarem-na. Riu com ele, por momentos pensou que era capaz de ficar assim eternamente, envolta pelos seus braços fortes, com o seu cheiro cravado na pele. Mas eternamente é muito tempo.. Quando os seus corpos unidos descansavam do êxtase da comunhão, ela suspirou-lhe ao ouvido “Quem és tu que me entraste na mente, no corpo? Que posso eu saber de ti? Estranho, um doce estranho.. entraste em mim como a luz que eu procurava. Uma noite de chuva que deu lugar ao Sol.”
Não haveria nada naquele momento que a fizesse acreditar que havia guerra, a proximidade das mãos, o espaço que Fausto ousara invadir, o beijo que lhe roubara mesmo ignorando o que escondiam as suas máscaras. Nele, Miriam encontrou um porto de abrigo para as tempestades da sua mente. Sabia-lhe bem poder partilhar as pequenas coisas com ele. Mas ainda lhe custava a entrega, o abandono subtil à união. Não queria encontrar nele apenas um preenchimento dos seus vazios. Disse a si mesma, vezes sem conta, que ele seria mais que isso. Mas o desejo de liberdade latejava no seu íntimo..

* Relembrando Litha I



Por vezes o passado assalta-a, sem avisar, sem se anunciar, para depois partir da mesma maneira, ferozmente.
Lembra-se de Fausto, aquele que embebedou as suas noites, a quem ela se deixou abandonar, para se perder. Permitiu-lhe o beijo, o toque, a sua entrada subtil no seu corpo de mulher-criança. Acendeu-se o fogo da paixão.. e agora restavam apenas as cinzas.
Conhecera-o na noite mais curta do ano, o Solstício, Litha, o momento em que o Sol, manifestação do Deus, atinge a sua plenitude e parte em busca da Terra do calor. Mantendo uma ligação manifesta com os ritmos da Natureza, encontrara maneira de comungar com os ritmos sabáticos no seu íntimo.

Através da sua arte de dançar com o fogo, seu elemento, contempla a luz de tudo o que a envolve, ignora os fantasmas que vivem dentro de si. A dança eufórica comanda o seu corpo já embriagado pelas comemorações sabáticas. O auge do calor, a multidão em seu redor. Fecha os olhos, tentando esquecer as feridas que a vida lhe trouxera, as paixões fugidias, as noites de prazer selvagem, entrega casual, promiscuidade. Oferece o seu corpo à música, num modo mais intenso de existir. Traz em si o odor da lembrança esquecida, demónios adormecidos que na noite a deixam livre para algo mais.
Não sabia se teria aprendido o que precisa para continuar em frente, ainda sente em si muita insegurança, muito desejo de ser sempre quem não era. A vida apresentava-lhe os mais belos desafios, mas continuava a sobreviver sem ser capaz de lutar por aquilo que amava, de decidir, de ser. Em si ardia o desejo de encontrar aquela pessoa capaz de desvendar os segredos da sua alma, apenas com o sentir, com o olhar.. Como se tal fosse possível sem primeiro sentir o desejo da sua alma, a missão talvez.

O choque brusco de dois corpos, violência impensada. Ele dirige-se a ela, furioso primeiro, risonho quando realmente se olham nos olhos. Não sabiam nesse momento que os seus corpos tinham sido atraídos por uma força que não entendiam. Ligam-se assim. Ela pede-lhe desculpa, não se tinha apercebido. Ele sorri apenas, deixando o olhar denunciar o desejo que sentia. A conquista do outro, o encontro inesperado, e quando dá por si não consegue desviar o olhar daquele homem que se cruzara na sua noite, no seu caminho. Um círculo dançante, ele do outro lado, falando casualmente com alguém, o desejo a crescer no seu peito. Queria-o conquistar, mas não se esforça muito, não sabia como, não era iniciada nos jogos de sedução. Limita-se a olhá-lo, de longe, dançando quando o seu corpo lhe pede, sorrindo quando a alma sente. E a noite trouxe o dia, anunciado pela Aurora, guardiã dos sonhos dos madrugadores. O primeiro dia de Verão.
Fecha os olhos para o céu, esticando os braços num agradecimento aos Deuses, pelo solstício, pelo calor que lhe invadia o corpo, que preenchia o espaço vazio entre ela e o mundo que a rodeava. Quando volta a abrir os olhos, ele está diante de si, sorrindo. Quem sabe o destino quisera-os ali naquela noite, agora transformada em dia. Um convite para um acordar sem dormir, para um novo dia, celebrar o Verão, os frutos maduros. Fausto, era o seu nome. Viera de um país distante, apenas para conhecer outras paisagens, e agora estava ali, diante de Miriam, agradecendo-lhe a ousadia daquele toque impensado.
Vem comigo, diz ela. Quero-te mostrar um sítio mágico, uma praia esquecida nas bordas de uma serra.

Guia-o pelos caminhos de terra até ao seu refúgio junto ao mar, na companhia do sol que brilha em todo o seu esplendor. Deita-se na areia a contemplar o horizonte, o calor que se entranha por todos os poros do seu corpo. Despe-se lentamente, descobrindo a coragem da nudez diante daquele homem que tanto a observa. Quero-me vestida de céu.. e sentir-me que nem estrela do mar, protegida por toda a Natureza que me rodeia e preenche.. E assim perde o medo de enfrentar o seu próprio reflexo. Aproxima-se das águas cristalinas e mergulha profundamente, sem dizer uma palavra, sabendo que nada que pudesse sair da sua boca poderia expressar o que vivia na sua alma. Sente o olhar dele sobre o seu corpo, um olhar de desejo, e aos pouco, o seu íntimo foi-se revelando à pessoa que ele era.
Falavam de tudo o que se lembravam, de poesia, música e vida, passando por momentos de silêncio compartilhado. Um silêncio que fala por si, que fala da verdade, do que as palavras não conseguem exprimir. Miriam abre o Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa, que ele traz consigo. Lê a primeira frase onde o seu olhar pousa: “Na grande claridade do dia o sossego dos sons é de ouro também. Há suavidade no que acontece. Se me dissessem que havia guerra, eu diria que não havia guerra. Num dia assim nada pode haver que pese sobre não haver senão suavidade”... Deixa-se embalar deitada ao sol que nem salamandra, permite que o sono trespasse o seu corpo e adormece por instantes.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Moral Estelar




63. MORAL ESTELAR

"Predestinada à tua órbita,
Que te importa, estrela, a noite?
Rola bem-aventurada, através do tempo!
Que a miséria te permaneça estranha.
A tua luz está destinada ao mais distante dos mundos:
A piedade deve ser-te um pecado.
Admite apenas uma lei: sê pura."

Nietzche

* imagem: "Starwalker" de Stephanie Pui-Mun Law

Lua Azul



É necessário libertarmo-nos da dita dor que o medo nos causa.
É uma dor imensa, que não se sente, mas que nos prende nas suas teias.
Torna-nos imóveis perante o que nos acontece nesta vida.
É urgente vencer os medos.
Arranjar a coragem suficiente para se ser verdadeiramente livre.
As badaladas soaram, o ano começou.
A chuva chegou para nos lembrar, talvez purificar.

* 1 de Janeiro de 2010 *

ANANDA VANII « Mensagem da Bem- Aventurança»

"Devem-se lembrar que nenhum trabalho grandioso pode ser realizado nesta Terra através de elogios. Para realizar qualquer tarefa nobre são necessários requisitos tais como: coragem, competência e máximo comprometimento. A vitória certamente será vossa. Em nenhuma circunstância devem-se preocupar com a vitória.

Vieram a esta Terra para realizar uma tarefa nobre; mantenham-se a trabalhar continuamente até alcançarem a vossa meta individual. E no final desse esforço, estão destinados a alcançar a vossa meta espiritual e a estabelecerem-se na Bem-aventurança Cósmica para toda a eternidade."

Shrii Shrii A’nandamurtiji