quinta-feira, 29 de abril de 2010

Quem Se Eu Gritar


"Procuro nos meus dias algum significado. O que eu não quero é perder a memória, e deixar os dias murchando no passado só porque já passaram.
E não quero perder a memória porque os dias são belos. São belos porque são dias, são divisões do meu pequeno tempo, são criações da minha pequena vida.
E cada dia deve ser tão importante e tão completo em si como um poema.
Não é que a minha vida em particular, ou as minhas experiências, tenham importância. Têm importância não porque são minhas mas porque são a vida.
E cada vez eu amo mais a vida sobre todas as coisas. Amo-a como uma lição de abismo involuntário, principalmente quando me sinto derrotada.
A vida corre em mim como um longo poema sem principio e sem fim, um poema redondo, fechado por momentos, em que o amor ocupa todo o tempo e todo o espaço em branco.
*
Contigo despi-me de uma moral fictícia que trazia agarrada à minha antiga pele. Aquilo em que acreditamos com sinceridade é verdadeiro e bom.
Um sentimento fundo vale mais do que todas as regras."
*
Y. K. Centeno
Quem Se Eu Gritar
in Três Histórias de Amor
Foto por Cristina Martins

quinta-feira, 15 de abril de 2010

..desaprender..


"De súbito, tudo se torna autêntico e leve, quase transparente, apesar da opacidade que adivinha no silêncio.
Talvez para desaprender fosse necessário atravessar todas as formas de excesso, mastigar os cristais de alianças pretensiosamente eternas, deixar-se cair no espaço vazio das lentas convergências, onde as noites se transformam em galáxias subterrâneas, devoradoras, canibalescas, mortíferas, onde o corpo se desfaz e se renova na tensão de contínuas erecções, dólmen monolítico dos cumes propícios, santuário possível da união entre a beleza e a morte, como obscena conquista de si mesmo através dos caminhos da surpresa, ventre coroado de estrelas, no zénite da mais funda partilha.
Era essa a forma ideal de desaprender, de serenar, desarticulando os gestos conhecidos, os movimentos calculados, os sistemas artificiais onde os amantes procuravam sempre a sua parte de verdade. Reflexão elementar."
*
Maria Graciete Besse
Incandescências
*
*
Terei de descobrir em mim uma nova forma de te amar.
Esquecendo medos.
Louvando a liberdade em nós.
Em cada despedida descubro sempre uma nova estrela no meu ser.
Serás tu que as escondes a cada noite que habitas em mim..?
Talvez tenhamos de desaprender os gestos de amor.
Recomeçar a cada movimento, a cada carícia.
Encontrar a unificação do Ser.