quarta-feira, 30 de junho de 2010

Quem Se Eu Gritar


"Tenho um grande desejo de solidão para pensar melhor em ti e em mim. Sobretudo para pensar em mim, porque me ignoro ainda totalmente e me vou perdendo de mim própria.
Pensar em ti é pensar num passado que está morto porque não chegou sequer a existir. Pensar em mim é preparar-me para o novo presente e para todas as surpresas possíveis que hão-de vir. Não sei quem foi que me disse que pensar no futuro é o mesmo que viver no passado, eternamente preso a coisas mortas. Eu penso agora em mim como um lago tranquilo, imperturbável, enquanto as sombras velhas vão ficando para trás em divisões do tempo."

* Y K Centeno
Quem Se Eu Gritar

quinta-feira, 10 de junho de 2010

* ..partir..


"Se eu pudesse não partir
Eu ficava aqui contigo
Se eu pudesse não querer descobrir
Se eu pudesse não escolher
Eu juro era este o meu abrigo
Se eu pudesse não saber que há mais
Mas como pode a lua não querer o céu?
Como pode o mar não querer o chão?
Como pode a vontade acalmar o desejo?
Como posso eu ficar..?"
*
* Margarida Pinto - Ficar (canção de embalar)
*
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- Está na altura de seguir viagem Miriam - disse-lhe repentinamente - Vou partir dentro de sete dias e quero que venhas comigo. Desafio-te. Quero-te mostrar o mundo que existe fora das muralhas desta cidade, para que possas sentir a liberdade do ser que és.
- Não sabes nada de mim, não o esqueças: sou capaz de provocar as maiores calamidades na mente, do sonhar na noite, só para matar os sonhos quando a manhã chega. Não queiras gostar de mim. Sou uma caminhante errante, simplesmente o que resta da hipocrisia das estrelas. Quero o melhor para ti, e acredita que isso não é estares comigo. Iria destruir-te, e não quero. Desculpa.
- .. Criamos deuses falsos em capelas douradas. Destruimos irmãos em nome dele. Destruimos o único deus que nos suportou estes anos todos. Aquele que tu adoras. A destruir somos bons. Mas tu.. a mim?
Abraçaram-se. Ela deixou escorrer uma lágrima, receando que este fosse um momento de despedidas.
*
Talvez a ideia do desapego seja uma maneira de evitar a entrega. Teria ela assim tantas máscaras perante a ideia de se entregar a alguém? Há encontros que não acontecem por acaso. E a verdade foge-lhe, de novo.. O que era realmente importante para si? O que a fazia lutar? Talvez seja o desejo de liberdade, ou maior o medo de tocar o outro. A Entrega. Mas porquê a necessidade de erguer as máscaras, as barreiras? Muralhas de si..
*
Ouve-me. Que o dia te seja limpo e encontres magia onde o teu olhar pousar. És e serás sempre aquela parte de mim que desejava encontrar, mas os caminhos são longos e nem eu sei o que tenho de percorrer até dizer que sou livre. Estou presa a demónios e fantasmas.
Amo-te, mas é maior o meu medo.