segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

* Imbolc


De novo os mesmos gritos ferozes, de pássaros selvagens por certo. Agitados, como as nuvens que se abatem sobre as colinas que o seu olhar alcança. A noite chega sobre o castelo. Consegue ouvir os cães das redondezas excitados, exaltados, uivando à lua que se esconde nos seus véus de brumas. Imbolc, noite de magia. Acendem-se velas nas casas para acelerar a chegada da Primavera, o seu cheiro a flores e campos de verdes brilhantes. Dirige-se à janela para fumar um cigarro. Desprende-se da viola e dos seus sons para escutar os pássaros selvagens. Para deixar a imaginação ganhar asas e adivinhar o que a neblina esconde. Mais uma noite sem sono, embora o seu corpo cansado anseie por repouso.

Imbolc reina, as velas acendem-se para acelerar a partida do Inverno. A Lua cheia, Lua leonina, brilha nos mantos negros da noite. Queria falar da importância de enfrentar as nossas sombras. Fomos um só em certas noites, os nossos corpos comungaram e as nossas almas abraçaram-se. Mas tão breves esses momentos..
Do que ficou pouco ou nada resta a dizer. O nosso tempo passou, as sombras esconderam as folhas da nossa árvore, agora entregue ao vento do Inverno.
Tão perto e tão longe, os ciclos insistem em viver em nós.
Agora que a madrugada cai sobre o meu ser, dou por mim a mergulhar nas teias da minha mente. Uma certa calma apodera-se de mim, aquela calma de quem já não tem mais nada a perder, pois nem sequer sabe o que tem de importante. Algo porque dar a vida?
Os sinos tocam lá fora, melodias de pássaros selvagens, cavalos a rondar o campo que me cerca. A paixão pelas coisas simples da vida, pelos momentos únicos em que a vida pode mudar o seu rumo.
Que eu seja capaz de amar, com a total liberdade da alma, sendo simplesmente eu, aquela que julgo conhecer tão bem, mas que a cada ciclo reencontra uma nova luz em si.

Ano cheio de enigmas..
Comemoramos a vida todos os dias? Somos capazes de empreender toda a sua beleza, o seu mistério? Quero sentir o brilhar da alma em mim.

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