domingo, 19 de dezembro de 2021

Para a frente Viajantes

"Por vezes pergunto-me se é isto o que Krishna queria dizer - 

Entre outras coisas - ou um modo de dizer a mesma coisa:

Que o futuro é uma canção desbotada, uma Rosa Real ou um ramo de alfazema

De ansioso lamento pelos que ainda aqui não estão para lamentar,

Comprimido entre as folhas amarelas de um livro nunca aberto.

E o caminho para cima é o caminho para baixo, o caminho para a frente o caminho para trás.

Não se pode encarar isto com firmeza, mas é certo

Que o tempo não cura: o doente deixa de estar aqui.

Quando parte o comboio, e os passageiros estão instalados

Com fruta, revistas e cartas de negócio

(E os que deles se despediram deixaram o cais)

Os seus rostos distendem-se da dor para o alívio,

Ao ritmo sonolento de uma centena de horas.

Para a frente, viajantes! sem fugir do passado

Para vidas diferentes ou para qualquer futuro;

Vós não sois os mesmos que partiram da estação

Os que hão-de chegar a qualquer término

Enquanto as calhas estreitando-se deslizam a par atrás de vós;

E no convés do paquete trepidante

Observando o sulco que se alarga atrás de vós,

Não pensareis «o passado acabou»

ou «o futuro está à nossa frente».

Ao cair da noite, no cordame e na antena,

Há uma voz descantando (embora não ao ouvido,

A concha murmurante do tempo, nem em qualquer outra língua)

«Para a frente, vós que julgais viajar;

Vós não sois os que viram o porto

Afastar-se, ou os que vão desembarcar.

Aqui, entre as praias de aquém e de além,

Agora que o tempo recuou, considerai o futuro

E o passado do mesmo modo.

No momento que não é de acção ou de inacção

Podeis receber isto: «em qualquer esfera da existência

Em que o espírito do homem se concentre

À hora da morte» - essa é a única acção

(E a hora da morte é a todo o momento)

Que há-de frutificar na vida dos outros:

E não penseis no fruto da acção.

Para a frente.

                      Ó viajantes, Ó homens do mar,

Vós que entrais no porto, e vós cujos corpos

Sofrerão a prova e o julgamento do mar,

Ou qualquer outro fim, este é o vosso verdadeiro destino.»

Tal como Krishna quando exortou Arjuna

No campo da batalha.

                                    Não adeus,

Mas para a frente, viajantes."


T. S. Eliot

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