terça-feira, 29 de dezembro de 2009
Cada Palavra é uma Semente
"Para se perceber o tempo, para se perceber o significado mais profundo, em vez de o interpretarmos, teríamos de nos despojar.
Despojarmo-nos do eu, mais do que qualquer coisa.
Eu quero, eu faço, eu compreendo, eu sou. Despojarmo-nos e esperar.
Esperar e ouvir.
Assim, a pouco e pouco, iremos reparando que este tempo, este tempo que nos torna ansiosos, este tempo em que vamos acumulando coisas a fazer e a dizer, é, na realidade, um tempo que não difere muito da corrida de uma formiga, um tempo ligeiro, breve, curto. O verdadeiro tempo não é esse.
É o tempo do mistério e da transcendência.
É o tempo em que a cada semente será revelado o seu projecto.
Um tempo que nos envolve e nos ultrapassa. Um tempo sem tempo, sem madrugadas, nem crepúsculos, sem aniversários, nem funerais.
É um tempo que nos antecede e nos segue, mas é também um tempo que nos acompanha ao longo dos dias, ou melhor, que irrompe nos dias, salvando-nos da deriva. É o tempo da humildade, da descida às raízes.
O tempo da escuta, da escuta que se transforma em diálogo.
É o tempo do acolhimento e do reconhecimento.
É o tempo da semente que se transforma em rebento e do rebento que se transforma em planta.
É o tempo da planta que transforma a energia do crescimento na beleza inútil da flor e que, um momento antes de murchar e deixar cair as sementes, repara com espanto que aquilo a que, até esse momento, chamara Luz, era, de facto, Amor."
Susanna Tamaro
Cada Palavra é uma Semente
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